Didier sempre foi um provocador. De família de vinhateiros na região, já adolescente, contrariou-se ao pai e saiu pelo mundo. Foi piloto de motocross (chegando a ser campeão distrital), competia com trenó de cães (duas vezes vice e uma vez campeão mundial) e mais tarde, aviador. Sem estudos formais em enologia, mas munido de muita ambição, canalizou esta energia para o mundo dos vinhos.
Na contramão da “moda anos 80” de tanques em inox, altos rendimentos e defensivos químicos, Didier queria produzir vinhos como seus ancestrais. Inspirado na Borgonha, foi um dos pioneiros no conceito de micro-parcelas, definidas por exposição e solo. Mas Didier vai além: poderia contentar-se com a nitidez pura de seus vinhos, fotografias de um terroir especial, porém incrementa a experiência e faz uso de barricas de primeiro uso em alguns deles. Até aqui controverso, a madeira funciona neste caso não como um “verniz”, uma “maquiagem”, mas como ferramenta de micro-oxigenação.
Hoje é perpetuado pela nova geração: seu filho Louis-Benjamin assume desde então a propriedade e faz um trabalho digno do orgulho de seu pai. Levou a produção a novos patamares, gerando vinhos cristalinos, de pulso, em múltiplas camadas. Menino prodígio, eleito vinhateiro do ano em 2016, entende a importância da continuidade. Herda o espírito indomável do pai: não basta ser como ele; tem que ser ainda melhor, sempre. Com uma coleção de prêmios, atingem o cume e grande sonho de Didier: o melhor Sauvignon Blanc do mundo, eleito diversas vezes, com as cuvées Silex e Pur Sang.
Como o próprio Didier relata em 1996 a Jancis Robinson, ao ser perguntado “para quem fazia os vinhos”, considerava-se um “marchant du bonheur”, ou “mercador da felicidade”. E é esta aura que continua a nos provocar e enfeitiçar.