Feche os olhos. Imagine-se há 2 mil anos atrás em uma paisagem ondulada e verdejante. Já se produz vinhos de alta qualidade, vinificados em lagares cavados na rocha (e resistentes até hoje!). É o chamado vinho “Passum”, dentre os mais encorpados e altamente classificados da região, e por isso transportados à capital, Roma. O termo usado para nomear este vinho deu origem ao “Vale de Passum”, mais tarde transformado em Valpaços.
Trás-os-Montes é uma das regiões vitivinícolas mais antigas e interessantes do mundo. Após o ataque da filoxera, ficou adormecida por mais de um século, até o trabalho de jovens viticultores resgatar sua importância no cenário mundial do vinho. No entanto ainda continua como um pequeno tesouro escondido para a maioria. Aliás, seu próprio nome já induz a uma certa timidez – a região aninha-se para lá das Serras do Marão e Alvão, ao norte do rio Douro e à leste do Rio Minho, fazendo fronteira com a Espanha. As paisagens mudam rapidamente, passando de vales de tapetes verdes a colinas de bosques sombreados, olivais, amendoeiras e outras árvores frutíferas. O clima é conhecido como 9 meses de inverno e 3 meses de inferno, com amplitudes térmicas consideráveis. A existência de vinhas velhas com castas centenárias, aliada à diversidade de solos com incidência de granito, xisto e manchas de calcáreo de gneisse, traz aos vinhos da região uma peculiaridade ímpar. Um amplo panorama de microclimas traduzidos por diferenças de altitude, exposição solar, pluviosidade, temperatura.
Em Alfândega da Fé, o Ninho da Pita é produzido à maneira antiga, com uvas de vinhas velhas, desde o planalto de Vilarchão até Vilariça, onde não há separação das uvas brancas e tintas e onde predominam castas ancestrais. Uma produção familiar, relativamente nova, desde 2014. Terrenos acidentados, solos pedregosos, vegetação em perfeita simbiose, com alegres florzinhas entre as filas de videiras. Tudo é tímido, não se faz alarde. No entanto é nítido o esforço manual e pessoal no cuidado com as vinhas. A personalidade e raça do povo trasmontano traduzida em vinhos que falam por si só.