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Vinho natural ao naturel

Vinho natural ao naturel

Uma categoria de vinhos que ainda é definição nebulosa por ser menos delimitada que as práticas de cultivo orgânico e também biodiâmico, que falamos nos posts anteriores, mas mais radical em seu approach.

Na forma mais minimalista possível de explicar: vinhos sem aditivos e intervenções. Ou vinho feito somente com uvas, nada é adicionado, nada é retirado. E, geralmente, vinhos de uvas de cultivo orgânico ou biodinâmico.

Nas palavras da master of wine e autora do livro Natural Wine: An introduction to organic and biodynamic wines made naturally, Isabelle Legeron:

“wine from vineyards that are farmed organically, at the very least, and which is produced without adding or removing anything during vinification, apart from a dash of *sulfites at most at bottling.”

*Quanto a um “toque de sultifos”, Isabelle restringe a 70 mg/l  na sua famosa feira RAW, em Londres.

A produção de vinhos é complexa, por mais que muitos produtores digam que é só deixar a natureza se manifestar, não é bem assim. Sem tomada de decisão e ação, não existe vinho. O que significa que há sim intervenção. E elas são inúmeras, como vimos no post de viticultura biodinâmica, e até 2020 não existia legislação delimitando o que poderia fazer parte da produção de “vinho natural”.

 ‘Vin méthode nature’:

Em 2020 nasce uma União dos Vinhos Naturais em colaboração com o Ministério Francês da Agricultura e o Instituto Nacional Francês de Origem e Qualidade (INAO) que tem em vista delimitar o que é ou não permitido dentro da categoria. É dirigida pelos vinicultores Jacques Carroget e Sébastien David, ambos vignerons do Vale do Loire.

Um logo foi criado e poderá ser usado na rotulagem dos produtores que dançarem conforme a música. Algumas das regras para obter o certificado são:

  • uvas colhidas à mão e certificadas orgânicas

  • somente leveduras de origem do terroir

  • chaptalização, correção de acidez e taninos, adição de água no mosto são proibidos

  • técnicas de filtragem

Quanto a sulfitagem, existem duas possibilidades de rotulagem: uma para zero adição e outro para os que respeitam o limite de 30 mg/l.

E existe vinho zero sulfito?
Só se for não adicionado, pois trata-se de um bio-produto natural da fermentação e encontramos em todos os vinhos de forma livre por volta de 20mg por litro, mesmo nos mais naturais, mesmo nos “zero-zero”. O que existe é vinho sem a adição de sulfitos.

Essas são algumas formas mais tangíveis de tentativas de definir algo quase intangível. Alice Feiring, autora de diversos livros naturalistas e uma das personalidades à frente do movimento, diz que não acredita que vinho natural pode se tornar algo “certificavel”.

Vinho natural é um estilo ou forma de produzir?

Na teoria, era para ser um meio, uma forma de chegar a vinhos mais puros e não apenas um estilo que enquadra ou não os vinhos que se assemelham por alguns fatores em comum, como o “funk”. Um exemplo é aquele consumidor recém chegado, que ao provar um vinho natural porém limpo e preciso, diz: “não gostei pois falta aquele funk…”.

Estilisticamente, pode sim para uns significar o poder do “funk”: uma acidez volátil daqui, um brettzinho dali, aquela cor que parece que um furacão entrou na garrafa. E para outros, maior precisão de aromas e sabores fidedignos ao terroir, sem madeira em excesso ou outras técnicas/defeitos que possam mascarar sua personalidade, harmonia de todos os elementos enaltecidos por muita vida que se sente a cada gole. Tem os dois lados da moeda e gosto é gosto, não se discute. E também transitar de um lado ao outro - na teoria - não deveria levar a crucificação de ninguém. Ter funk ou não ter, não deveria ser critério para categorizar um vinho como natural ou não. Marc Davidson, meu grande amigo e proprietário de um dos melhores bares de vinhos naturais da Europa (siga o Senhor Uva lá para sua próxima visita a Lisboa ser memorável), também acredita que o “funk” em excesso pode entrar no caminho da expressão do terroir e confundir consumidores, como diz abaixo:

“Muitos consumidores ou produtores que não tiveram nenhuma experiência anterior ou background em vinhos vão em direção a esses vinhos, ou tipo de produção, devido a sua atratividade com a ideia de que nada é colocado e nada tirado, o que na teoria parece bastante fácil. Assim, encontramos muitos vinhos em circulação que têm padrões que são confundidos com Terroir ou ocorrências naturais na produção de vinhos. Isto está prejudicando a comunidade que está tentando educar e compartilhar vinhos que foram bem feitos e que valem a pena beber. Isto é algo que afasta os consumidores recém-chegados de vinho ou até mesmo os mais experientes e lhes dá uma má impressão do que realmente são vinhos de baixa intervenção.”

Terroir:

A maior beleza do vinho é o terroir, muitos dizem. Será mesmo?

Para os profissionais e degustadores experientes é possível que sim. Mas será que maioria dos consumidores em geral sabe realmente identificar esse tal “senso de lugar”? Possivelmente não. Então a maior beleza do vinho se torna realmente sua ‘bebilidade’, o famoso glou-glou. O simples fato de ser gostoso ou não, da garrafa acabar em segundos ou não. E vinho natural, meu amigo ou amiga, quando atinge aquele estado de irresistível ‘deliciosidade’ torna impossível pararmos em uma só garrafa.

Mas por outro lado, às custas da procura insaciável pela “bebilidade”, “não-intervenção” e o “funk”, o terroir pode morrer na praia. E ai, o vinho perde o seu senso de lugar, que é a grande magia que o diferencia de qualquer outra bebida - que a gente enxergue ou não. Assim, a sua filosofia o limita. Mas como eu disse, gosto é gosto, preferência é preferência.

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