Concentração em 2018 na Borgonha

Em suma, 2018 é um safra de altíssima qualidade na Côte-d'Or, Borgonha. Qualitativamente, a nova ferramenta do Wine Lister, colocou 2018 lado a lado com 2010 e 2009 quando seu sistema de média de pontuações dos críticos resultou em 94 pontos para as três excelentes safras. E incrivelmente, também pontou de forma igual os brancos de 2018 e quanto os brancos da ultra clássica 2014. 

Oriunda de um ano quente mas que não demonstra sinais de overripeness em seu perfil. No estilo, não é clássica como 2010 mas também não é exagerada como 2003. OE o melhor de tudo melhor: seguido de alguns anos catastróficos em termos de quantidade, essa safra traz volume suficiente para a tranquilidade de todos. Temos vinho! E de qualidade!

Os exemplares gravitam entre 12.5% de álcool ao outro extremo 14.5% (com alguns casos ainda mais, Tim Atkin MW diz ter se deparado com um Bonnes Mares a 16.3%). Essa variação tão distinta é reflexo de alguns fatores: como os vignerons lidaram como o calor durante o período de maturação; a escolha difícil entre chegar na maturação fenólica mas sacrificando acidez e elegância; estratégias tomadas pelos vignerons em resposta aos altos rendimentos de um ano sem maiores complicações com geada ou granizo e muita chuva no seu início (Fevereiro foi 190% mais chuvoso do que a média na Côte d’Or ).

O maior desafio dos dias de hoje é encontrar o equilíbrio entre maturação fenólica (casca, sementes, engaços) e o acumulo de açúcar. Jasper Morris MW disse algo brilhante sobre o tema: em 2018, muitos optaram por não esperar a maturação fenólica completa para evitar perca excessiva de acidez e acúmulo exacerbado de álcool, e no final não se importam mais se os taninos não são tão resolvidos. Aparentemente, esse é o novo dilema da Borgonha, que chegou por causa do aquecimento global (e mais alguns outros fatores). Incrível que até não muito tempo atrás, o desafio estava no outro extremo: conseguir amadurecer as uvas e alcançar o mínimo de álcool para não ter que chaptalizar.

Devido as chuvas de inverno e primavera, as reservas de água estavam cheias. Alguns fizeram poda verde, reduzindo em até 50 e obtiveram mais concentração nos seus vinhos, enquanto outros optaram por não confrontar os rendimentos mais altos visando mitigar os efeitos da enorme concentração de açúcar natural do ano.

Um pouco antes da colheita, houve sim picos de calor mas não da mesma forma continua de 2003. Outras diferenças em comparação ao ano escaldante, é que em 2018 choveu mais e ela foi mais bem distribuída durante o ano - e o melhor, sem cair perto do verão, e isso somado a ausência de geadas trouxe rendimentos muito maiores em relação. Mas acima de tudo, há 5 anos picos de calor extremo eram um elemento surpresa para os vignerons, mas o passar do tempo os deixou mais reativos positivamente.

Alguns dos críticos defendem que os brancos estão ainda melhores que os tintos. Parece controverso, tendo em conta que é um ano quente mas algumas correntes de pensamento defendem que porque os rendimentos foram maior nos brancos do que nos tintos, houve diluição da concentração. Para quem tomou os brancos do Giboulot esse ano, a fruta está realmente madura mas não falta precisão nem vibração. Na boca há frescor e salinidade, resultado de quem move o mundo para colher na hora exata.

Os tintos não demonstram excessos e o flagship wine do Domaine, o Lulunne, está descomunal! Não foi à toa que o Eugênio Oliveira pontuou na Gula com 96 e ressalta a presença de delicadeza, frescor, frutas vermelhas… e ainda compara a um belo Chambolle-Musigny (review completa no site da Gula). 

VEJA OS VINHOS DE EMMANUEL GIBOULOT EM NOSSO SITE

 

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